Tuesday, March 20, 2007



A luz desmaia num fulgor de aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora,
Tenho bênçãos de amor pra toda a gente !
E a minha alma, sombria e penitente,
Soluça no infinito desta hora...

Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho !
Ó meu áspero e intérmino Calvário !

E a esta hora tudo em mim revive :
Saudades de saudades que não tenho ...
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive ...



Florbela Espanca

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